EVOCAR OU NÃO ESPÍRITO, UMA BREVE REFLEXÃO ESPÍRITA (JORGE HESSEN)
Qual a importância da evocação dos Espíritos nos dias de hoje? Será
inadmissível ou errada a evocação dos desencarnados? É incontestável não
haver qualquer dispositivo que impeça a evocação (1) dos Espíritos na
Codificação. Porém, Kardec faz ressalvas sobre o tema: “frequentemente
as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados
espontâneos, sobretudo quando se trata de obter respostas precisas a
questões circunstanciadas. Para isto, são necessários médiuns especiais,
ao mesmo tempo flexíveis e positivos”. (2) Portanto, sem esse
discernimento, se alguém evocar uma pedra ela responderá, pois “há
sempre uma multidão de Espíritos prontos a tomar a palavra sob qualquer
pretexto.” (3)
Atualmente há cauteloso exercício da não evocação
dos Espíritos. Como interpretar o empecilho evocatório nos grupos
mediúnicos? Cremos que inexista qualquer proibição pelos dirigentes; o
que acontece são apenas critérios de aconselhamentos para que tal
prática seja evitada, em face das precipitações que proporciona. Em que
pese não ser totalmente favorável à evocação dos Espíritos, não
analisamos tal método como “coisa demoníaca”, desde que sejam aferidos
os relevantes desígnios a que se propõem e, sobretudo, os valores morais
dos evocadores.
A propósito das manifestações mediúnicas
espontâneas, será que são menos perigosas do que as evocações? O
Codificador afiança que a evocação traça laços entre o evocador e o
evocado, que impedem ou pelo menos limitam a interferência de um
mistificador. Todavia, Kardec também assegura que “as comunicações
espontâneas não apresentam inconveniente algum e que por esse método se
podem obter coisas admiráveis.”. (4)
Em verdade, no transcurso
dos anos adveio uma mudança no método de intercâmbio com o além. Entre
os importantes pontos que avalizam a restrição da prática evocatória
atual, consta a desconfiança da indução, do sugestionamento ou do
animismo do médium, além do quê, este acabaria quase que na obrigação de
“receber espírito tal ou qual”, sobretudo para atender ao dirigente e
ao grupo.
Outros aspectos a considerar são a sujeição e a inibição
que, via de regra, escoltam esse tipo de exercício mediúnico (evocação),
originários da perspectiva quase sempre mística cultivada em torno do
médium. Cremos que a modificação do processo evocatório nas reuniões
mediúnicas ocorreu porque não surtiu, após a Codificação, os efeitos
almejados. Ou o mais provável, por não se obterem médiuns
“desenvolvidos” com qualidades adequadas ou, em última análise, ambas as
condições.
Do exposto, e considerando as graduais etapas da
programação espírita na Terra, será que atualmente deveríamos promover
(como ocorreu durante a codificação), um diálogo escancarado e direto
com os recém-desencarnados, visando obter notícias dos mesmos para seus
familiares que aqui ficaram? Quantas pessoas procuram grupos espíritas
querendo notícias dos entes que “partiram”? Será que a finalidade da
mediunidade é essa?(5) Há pessoas (pasmem!) que “orientam” médiuns
através de cursos “avançados”, ensinando algum tipo de “técnica” para
“receberem recém-desencarnados”. Tais “mestres de Espiritismo” afirmam
com bazófia que alguns jovens e outros “formandos” estarão dentro em
breve prestando [através da evocatória mágica] os “serviços” de
consolação para os parentes que por aqui ficaram!…(?!?!?) Acredite se
quiser!!!!(6)
Reafirmamos a opinião de Emmanuel – “qualquer
comunicação com o invisível deve ser espontânea, e o espírita cristão
deve encontrar na sua fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo
humano ponderando quanto à necessidade de repouso daqueles a quem amou, e
esperando a sua palavra direta, quando e como julguem os mentores
espirituais conveniente e oportuno”. (7) O bom senso nos impõe a certeza
nas lições aqui consignadas pelo Mentor de Chico Xavier. O lembrete não
pode ser atribuído à opinião pessoal do Benfeitor, como soi apostilar
alguns, até porque não há qualquer contradição doutrinária no seu
discurso.
Um grupo espírita prudente trabalha com a
espontaneidade das comunicações e recorre às evocações tão só nas
situações extraordinárias. Até porque “no curso do trabalho mediúnico,
os esclarecedores não devem constranger os médiuns psicofônicos a
receber os desencarnados presentes, repetindo ordens ou sugestões nesse
sentido, atentos ao preceito de espontaneidade – fator essencial ao
êxito do intercâmbio.”(8)
Notemos que não temos domínio sobre o
mundo dos Espíritos que, para desagrado dos evocadores, têm suas
próprias normas de conduta. Quanto aos principiantes na mediunidade,
Kardec adverte energicamente “para que não se adote a evocação direta de
um Espírito explicando as dificuldades do processo e aconselhando um
apelo geral.”. (9)
Há circunstâncias reais que inibem ou obstam
aos Espíritos atender os evocadores quando lhes são dirigidas as
evocações. Observemos algumas situações que tornam a evocação
impossível: quando o desencarnado está envolvido em missões ou ocupações
de que não pode afastar-se; quando o Espírito não estiver mais no além,
porém já (re)encarnado (só excepcionalmente pode acontecer evocação de
um encarnado), mas isso é impossível se estiver reencarnado em planetas
inferiores à Terra; quando o evocado etéreo se encontra em locais de
punição e não tem permissão para dali se afastar; quando o médium
evocador, por sua natureza ou aptidão, não consegue entrar em sintonia
mediúnica com o Espírito evocado.
Além disso, como pronunciou
Kardec, “as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns.”.(10)
Certa vez, alguém nos disse o seguinte: “os dirigentes que estão
propondo atualizar suas casas espíritas necessitam abdicar o
entendimento contrário às evocações, pois se não houver evocações o
centro espírita ficará impedido de curar obsessões (!?…), deixando de
realizar uma das mais importantes obras do Espiritismo: a libertação
obsessiva” (!!!???). Expliquei ao distinto evocador que o tratamento de
desobsessão não é a “obra” mais imperiosa da instituição espírita. A
mais importante missão do centro espírita é difundir os conceitos
doutrinários, visando colaborar na reforma moral do homem. Outra coisa: o
Espiritismo jamais recomendará a propagação dos impróprios métodos de
exorcismo batizados de desobsessão através de ingênuas evocações.
Para Leon Denis, não é indispensável fazer evocações definidas. No
grupo que dirigiu, raramente ocorreram evocações, pois “preferia dirigir
um apelo aos guias e protetores habituais, deixando a qualquer Espírito
a liberdade de se manifestar sob sua vigilância.”. (11) Denis legou-nos
modelos excelentes de reuniões onde se cultivava a reverência intensa
aos mentores do além, em que a mediunidade era desempenhada com amor,
sem que houvesse perda ao estudo e à investigação.
Ademais será
que impedindo ou sugerindo a não evocação de Espíritos, o campo de
pesquisa na instituição se fecha e tudo fica entregue ao “Deus dará”?
Será que sem as evocações de Espíritos advirá a pobreza de revelações
“avançadas” do além? Há opiniões extravagantes atestando que as
manifestações espirituais espontâneas são fonte de improdutividades
doutrinárias, o que torna o centro espírita inerme e de onde se faz
necessário sair com urgência. (Pasmem!)
Evocar ou não um Espírito é
assunto que necessita, assim, ser bem ponderado, tendo sempre em mente a
intenção a que ela se presta. André Luiz reafirmou o parecer firmado
por Emmanuel, aconselhando a supressão, em nosso meio, “da prática da
evocação nominal dos Espíritos.”. (12)
A técnica evocativa dos
Espíritos teve sua época, como tiveram as mesas girantes, as pranchetas,
as tiptologias, as pneumatografias e pneumatofonias, as materializações
etc. Como também teve sua época “o diálogo com os Espíritos através da
psicografia. O retorno ao método da evocação, inclusive, não dinamizaria
as atividades mediúnicas e nem propiciaria o surgimento de médiuns mais
aptos e seguros. No caso destes é exatamente o contrário: o surgimento
de médiuns mais adestrados é que possibilitaria (talvez) as condições
para as evocações.”. (13)
Em síntese, a evocação pode ser empregada
eventualmente, priorizando-se, porém, as comunicações espontâneas. Óbvio
que nenhum dos dois métodos deve ser rejeitado radicalmente, até porque
isso ocasionaria prejuízos nas atividades da mediunidade nos seus
vários aspectos, seja na eventual terapêutica dos quadros obsessivos, na
assistência aos espíritos sofredores ou nas investigações dos fenômenos
extrafísicos.
Referências Bibliográficas:
(1) A palavra “evocar” deriva do latim “evocare” que significa atrair “alguém” de algum lugar.
(2) Kardec, Allan. O Livro dos médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 1971,cap. 25 item 272
(3) Idem, item 283a
(4) Idem , item 269
(5) Hessen, Jorge. Artigo “Técnicas para notícias de desencarnados”, publicado no site
http://aluznamente.com.br/tecnicas-para-noticias-de-desenca…... acessado em 12/03/2013
(6) Idem , acessado em 13/03/2013
(7) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, Questão 380
(8) Xavier, Francisco Cândido: Desobsessão ditado pelo Espírito:
André Luiz cap. Manifestação do enfermo espiritual III, RJ: Ed. FEB,
1980
(9) Kardec, Allan. O Livro dos médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 1971,cap. 17 item 203
(10) Idem , item 272
(11) Denis, Leon, No invisível RJ: Ed FEB, 1990, disponível em
http://vademecumespirita.com.br/…/…/texto/611/orientacoes-de...
(12) Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Conduta Espírita,
ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap 25
(13) Shubert, Suely Caldas. Artigo – “Da evocação dos Espíritos nas reuniões mediúnicas”, Disponível em
http://suelycaldasschubert.webnode.com.br/artigos/ acessado em 12/03/2013