O passe espírita é simplesmente a imposição das mãos, usada e
ensinada por Jesus como se vê nos Evangelhos. Origina-se das práticas de
cura do Cristianismo primitivo. Sua fonte humana e divina são as mãos
de Jesus. Mas há um passado histórico que não podemos esquecer. Desde as
origens da vida humana na terra encontramos os ritos de aplicação dos
passes, não raro acompanhados de rituais, como sopro, a fricção das
mãos, a aplicação de saliva e até mesmo (resíduo do rito do barro), a
mistura de saliva e terra para aplicação no doente. No próprio Evangelho
vemos a descrição da cura de um cego por Jesus usando essa mistura. Mas
Jesus agiu sempre, em seus atos e em suas práticas, de maneira que
essas descrições, feitas entre quarenta e oitenta anos após a sua morte,
podem ser apenas influência de costumes religiosos da época. Todo o seu
ensino visava afastar os homens das superstições vigentes no tempo.
Essas incoerências históricas, como advertiu Kardec, não podem provir
dele, mas dos evangelistas; caso contrário, Jesus teria procedido de
maneira incoerente no tocante aos seus ensinos e seus exemplos, o que
seria absurdo.
O passe espírita não comporta as encenações e
gesticulações em que hoje se envolveram alguns teóricos improvisados,
geralmente ligados a antigas correntes espiritualistas de origem mágica
ou feiticista. Todo o poder e toda a eficácia do passe espírita dependem
do espírito e não da matéria, da assistência espiritual do médium
passista e não dele mesmo. Os passes padronizados e classificados
derivam de teorias e práticas mesméricas, magnéticas e hipnóticas, de um
passado já há muito superado. Os espíritos realmente elevados não
aprovam nem ensinam essas coisas, mas a prece e a imposição das mãos.
Toda a beleza espiritual do passe espírita, que provém da fé racional no
poder espiritual, desaparece ante as ginásticas pretensiosas e
ridículas gesticulações.
As encenações preparatórias: mãos erguidas
ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos
abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para melhor assimilação
fluídica, braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem
dos fluidos, e assim por diante, só serve para ridicularizar o passe, o
passista e o paciente. A formação das chamadas pilhas mediúnicas, com o
ajuntamento de médiuns em torno do paciente, as correntes de mãos dadas
ou de dedos se tocando sobre a mesa – condenadas por Kardec – nada mais
são do que resíduos do mesmerismo do século passado, inúteis,
supersticiosos e ridicularizantes.
Todas essas tolices decorrem
essencialmente do apego humano às formas de atividades materiais.
Julgamo-nos capazes de fazer o que não nos cabe fazer. Queremos dirigir,
orientar os fluidos espirituais como se fossem correntes elétricas e
manipulá-los como se a sua aplicação dependesse de nós. O passista
espírita consciente, conhecedor da doutrina e suficientemente humilde
para compreender que ele pouco sabe a respeito dos fluidos espirituais –
e o que pensa saber é simples pretensão orgulhosa – limita-se à função
mediúnica de intermediário. Se pede a assistência dos Espíritos, com que
direito se coloca depois no lugar deles? Muitas vezes os Espíritos
recomendam que não se façam movimentos com as mãos e os braços para não
atrapalhar os passes. Ou confiamos na ação dos Espíritos ou não
confiamos, e neste caso é melhor não os incomodarmos com os nossos
pedidos.
O passe espírita é prece, concentração e doação. Quem
reconhece que não pode dar de si mesmo, suplica a doação dos Espíritos.
São eles que socorrem aqueles por quem pedimos, não nós, que em tudo
dependemos da assistência espiritual.
José Herculano Pires
Do livro: Obsessão - o Passe – a Doutrinação
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