Quando nos perguntamos o que é o Espiritismo ou como foi codificado o
Espiritismo, precisamos entender historicamente o caminhar da
mediunidade, que como veremos mais à frente é a faculdade de entrar em
contato com o mundo espiritual, pois foi precisamente através dos
fenômenos mediúnicos que o Espiritismo surgiu.
Engana-se aquele
que pensa que os fenômenos mediúnicos são recentes, ou obras do
espiritismo. A relação entre o mundo espiritual e o mundo físico
perde-se na memória da humanidade, e o homem sempre portou a faculdade
de contatar aqueles que não pertencem mais ao mundo dos encarnados.
A
faculdade mediúnica é inerente a todos os homens, é um sentido, assim
como a visão, e são raríssimos os casos em que o homem não sinta direta
ou indiretamente a influência do outro mundo e de seus habitantes.
Durante muito tempo a humanidade guiou-se por esses fenômenos, tidos até
então como maravilhosos e sobrenaturais. Em algumas culturas eram
considerados meios de contatar os próprios Deuses e por esse motivo a
mediunidade e os médiuns, seres portadores desta faculdade de forma mais
ostensiva, eram considerados verdadeiros santos, sacerdotes enviados
pelos Deuses ao mundo dos viventes para guia-los e instruí-los durante
sua passagem pela Terra.
Veremos agora o desenvolver da mediunidade no decorrer da história e das sociedades.
Os Fenômenos mediúnicos na história da humanidade.
A mediunidade nas Sociedades Primitivas Tribais
Quando pensamos em mediunidade remetemo-nos ao período pré-histórico
denominado Paleolítico, período que vai de 2,5 Milhões Antes de Cristo a
10.000 anos Ante de Cristo, onde os humanos eram essencialmente nômades
caçador-coletores, tendo que se deslocar constantemente em busca de
alimentos. Desenvolveram os primeiros instrumentos de caça feitos em
madeira, osso ou pedra lascada. Apesar de convencionar-se que a
consolidação da religião ocorre no período Neolítico, a arqueologia
registra que no Paleolítico existiu uma religião primitiva. Essa era
baseada no culto à mulher com a associação desta ao poder de dar a vida.
Foram descobertas, no abrigo de rochas Cro-Magnon em Les Eyzies,
conchas cauris, descritas como "o portal por onde uma criança vem ao
mundo"; eram cobertas por um pigmento de cor vermelho ocre, que
simbolizava o sangue, e estavam intimamente ligadas ao ritual de
adoração às estatuetas femininas, que evidenciavam a função da mulher no
período, a de procriar, com úteros grandes, que se entende como
gravidez e seios também grandes, evidenciando a amamentação. Escavações
atestaram que estas estatuetas eram encontradas muitas vezes numa
posição central, em oposição aos símbolos masculinos, que eram
localizados em posições periféricas ou ladeando as estatuetas femininas.
Passando do Paleolítico temos o período denominado Neolítico, ou
“Período da Pedra Polida”, datando cerca de 3.000 anos Antes de Cristo,
quando a humanidade que até então era nômade, começou a sedentarizar e a
organizar-se em tribos e pequenas sociedades que possuíam entre si os
seus xamãs, uma espécie de sacerdote, médico, curandeiro, conselheiro e
adivinho. Era um líder espiritual com funções e poderes de natureza
ritualística, mágica e religiosa que tinha a capacidade de, por meio de
êxtase, manter contato com o universo sobrenatural e com as forças da
natureza.
A mediunidade no Hinduísmo.
O hinduísmo é uma
tradição religiosa oriental, originada na índia e não tem um sistema
unificado de crenças, abrange todos os fenômenos religiosos que se
originam e são baseados nas tradições védicas. Pouco se é conhecido
sobre a origem do Hinduísmo, já que sua existência antecede registros
históricos, a sua existência é estimada entre 4.000 a 6.000 anos Antes
de Cristo.
O hinduísmo moderno cresceu a partir dos Vedas que são os
textos mais antigos do hinduísmo, e também influenciaram o budismo, o
jainismo e o sikhismo. Os Vedas contêm hinos, encantamentos e rituais da
Índia antiga. Juntamente com o Livro dos Mortos (coletânea de feitiços,
fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias do Antigo Egito,), com o
Enuma Elish (é o mito de criação babilônico), I Ching (O pode ser
compreendido e estudado tanto como um oráculo quanto como um livro de
sabedoria. Na própria China, é alvo do estudo diferenciado realizado por
religiosos, eruditos e praticantes da filosofia de vida taoísta.) e o
Avesta (escrituras sagradas do zoroastrismo), eles estão entre os mais
antigos textos religiosos existentes. Além de seu valor espiritual, eles
também oferecem uma visão única da vida cotidiana na Índia antiga.
Desde tempos imemoriais, os brâmanes (é um membro da casta sacerdotal
indiana), iniciados nos mistérios sagrados, preparavam indivíduos
chamados “faquires” para a obtenção dos mais notáveis fenômenos
mediúnicos, tais como a levitação, o estado sonambúlico até o nível de
êxtase, a insensibilidade hipnótica à dor, entre outros, além do treino
para a evocação dos Pitris (espíritos que vivem no espaço, depois da
morte do corpo), cujos segredos eram reservados somente àqueles que
“apresentassem 40 anos de noviciado e de obediência passiva”.
A iniciação entre os brâmanes comportava três graus:
· No primeiro, eram formados para se encarregar do culto vulgar e
explorar a credibilidade da multidão. Ensinava-se a eles comentar os
três primeiros livros dos Vedas, dirigir as cerimônias e cumprir os
sacrifícios. Os brâmanes do primeiro grau estavam em comunicação
constante com o povo, eram seus diretores imediatos.
· O segundo
grau era composto dos “exorcistas, adivinhos e profetas evocadores de
espíritos”, que eram encarregados de atuar sobre a imaginação das
massas, por meio de fenômenos sobrenaturais.
· No terceiro grau, os
brâmanes não tinham mais relações diretas com a multidão e quando o
faziam, era sempre por meio de fenômenos aterrorizantes e de longe.
A mediunidade no Antigo Egito
O Antigo Egito foi uma civilização da Antiguidade oriental do Norte de
África, concentrada ao longo ao curso inferior do rio Nilo, no que é
hoje o país moderno do Egito. A civilização egípcia se aglutinou em
torno de 3 150 antes de Cristo com a unificação política do Alto e Baixo
Egito, sob o primeiro faraó desenvolveu-se ao longo dos três milênios
seguintes. Sua história desenvolveu-se ao longo de três grandes reinos
marcados pela estabilidade política, prosperidade económica e
florescimento artístico, separados por períodos de relativa
instabilidade conhecidos como Períodos Intermediários.
Para
compreendermos a mediunidade no antigo Egito é preciso que compreendamos
um pouco como a sociedade egípcia funcionava e como era a sua ligação
com a Religião.
A sociedade egípcia era organizada de forma
eficiente, embora injusta, mas a sua eficiência garantia sua expansão e
funcionamento adequado .
Cada segmento da hierarquia possuía funções e poderes determinados. Ocuparmo-nos apenas dos sacerdotes.
Na escala de poder estavam abaixo apenas do Faraó, com quem mantinham
contato direto. Eram responsáveis por rituais, festas, todas, é claro,
ligadas as atividades religiosas. Tinha como função também administrar
todos os bens que eram oferecidos aos deuses, assim, acabavam acumulando
uma grande quantidade de bens materiais.
“De forma idêntica às
práticas religiosas da antiga Índia, as faculdades mediúnicas no Egito
foram desenvolvidas e praticadas no silêncio dos templos sagrados, sob o
mais profundo mistério e rigorosamente vedadas à população leiga. A
iniciação nos templos egípcios era cercada de numerosos obstáculos e
exigia-se o juramento de sigilo. A menor indiscrição era punida com a
morte.
Saídos de todas as classes sociais, mesmo das mais ínfimas,
os sacerdotes eram os verdadeiros senhores do Egito. Os reis por eles
escolhidos e iniciados só governavam a nação a título de mandatários.
Todos os historiadores estão de acordo em atribuir aos sacerdotes do
antigo Egito poderes que pareciam sobrenaturais e misteriosos.
Os magos dos faraós realizavam todos esses prodígios que são referidos na Bíblia. É bem certo que eles
evocavam os mortos, pois Moisés, seu discípulo, proibiu formalmente que
os hebreus se entregassem a essas práticas. Os sacerdotes do antigo
Egito eram tidos como pessoas sobrenaturais, em face dos poderes
mediúnicos que eram misturados maliciosamente com práticas mágicas e de
prestidigitação. A ciência dos sacerdotes do Egito antigo ultrapassava
em muito a ciência atual, pois conheciam o magnetismo, o sonambulismo,
curavam pelo sono provocado, praticavam largamente a sugestão, usavam a
clarividência com fins terapêuticos e eram célebres pelas práticas de
curas hipnóticas.
No tempo em que Moisés libertou o povo hebreu do cativeiro egípcio, vamos encontrar o espírito daquele
que um dia seria o codificador da doutrina espírita envergando a túnica
sacerdotal e já detentor de sabedoria que o colocava como sacerdote
preferido do faraó Ramsés II.
O sacerdote Amenophis era médium de
efeitos físicos, inclusive existem relatos sobre as sessões de
materialização que eram realizadas naquela época.” (Revista Cristã de
Espiritismo nº12 pág 20-24)
Mediunidade na Grécia Antiga
Tradicionalmente, a Grécia Antiga abrange desde 1 100 a.C. (período
posterior à invasão dórica) até à dominação romana em 146 a.C., contudo
deve-se lembrar que a história da Grécia inicia-se desde o período
paleolítico, perpassando a Idade do Bronze com as civilizações Cicládica
(3000-2 000 a.C.), minoica (3000-1 400 a.C.) e micênica (1600-1 200
a.C.); alguns autores utilizam de outro período, o período pré-homérico
(2000-1 200 a.C.), para incorporar mais um trecho histórico a Grécia
Antiga.
Os gregos praticavam um culto politeísta antropomórfico, em
que os deuses poderiam se envolver em aventuras fantásticas, tendo,
também, a participação de heróis (Hércules, Teseu, Perseu, Édipo) que
eram considerados divinos. Não havia dogmas e os deuses possuíam tanto
virtudes quanto defeitos, o que os assemelhava aos mortais no aspecto de
personalidade. Para relatar os feitos dos deuses e dos heróis, os
gregos criaram uma rica mitologia.
Além dos grandes santuários como
os de Delfos, Olímpia e Epidauro, havia os oráculos que também recebiam
grandes multidões, pois lá se acreditava receber mensagens diretamente
dos deuses. Um exemplo claro estava no Oráculo de Delfos, onde uma
pitonisa (sacerdotisa do templo de Apolo) entrava em transe e
pronunciava palavras sem nexo que eram interpretadas pelos sacerdotes,
revelando o futuro dos peregrinos.
As práticas religiosas gregas
influenciaram as práticas Romanas até 391 d. C. quando Teodósio I,
último líder de um Império Romano unido, oficializou a conversão do
império romano ao Cristianismo.
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