O sonambulismo é um dos fenômenos classificados como de emancipação
da alma. O estado de transe possibilita o desprendimento do Espírito,
que passa a agir e pensar com mais liberdade e menos influenciado pelo
corpo físico. Já a mediunidade é caracterizada pela intervenção de um
Espírito desencarnado que utiliza o organismo do médium para se
comunicar com o plano material. “(...) o sonâmbulo exprime o seu próprio
pensamento, enquanto que o médium exprime o de outrem.” Foi o que
escreveu Allan Kardec em O Livro dos Médiuns.
Entretanto, assim como
um Espírito pode transmitir suas ideias através de um médium, também
pode fazê-lo valendo-se de um sonâmbulo. Estando este em estado de
emancipação, pode facilmente ver e ouvir os Espíritos, captar os seus
pensamentos e retransmiti-los.
Kardec cita um exemplo na mesma obra:
Um dos nossos amigos usava como sonâmbulo um rapazinho de 14 para 15
anos, de inteligência bastante curta e de instrução extremamente
limitada. Em estado sonambúlico, porém, dava provas de extraordinária
lucidez e grande perspicácia. Isso principalmente no tratamento de
doenças, tendo feito numerosas curas consideradas impossíveis.
Certo
dia, atendendo a um doente, descreveu a sua moléstia com absoluta
exatidão. – “Isso não basta – lhe disseram –, agora é necessário indicar
o remédio.” – “Não posso – respondeu ele, – meu anjo doutor não está
aqui”. “– A quem chama você de anjo doutor?” “– Aquele que dita os
remédios.” “– Então, não é você mesmo que vê os remédios?” “– Oh, não,
pois não estou dizendo que é o meu anjo doutor quem os indica?”
Como
vemos, a mediunidade sonambúlica consiste na junção de dois fenômenos
distintos: o sonambulismo, que é um fenômeno anímico, e a mediunidade,
que consiste na intermediação entre os planos material e espiritual.
Difere da mediunidade psicofônica, pois que nesta é o Espírito que
transmite a mensagem usando os implementos vocais do médium. Ele fala em
primeira pessoa. Na mediunidade sonambúlica, é o sonâmbulo quem se
expressa comunicando aquilo que o Espírito lhe diz. Fala, portanto, em
terceira pessoa.
No caso acima citado, o jovem sonâmbulo contava com
a assistência de um Espírito que complementava os seus conhecimentos. O
rapaz enxergava a doença detalhando-a com precisão. Como disseram os
Espíritos da Codificação, é a alma que vê além dos limites impostos pela
matéria. Esta é a parte anímica. Já a transmissão das informações cuja
autoria pertencia ao desencarnado, eis em que consiste a faculdade
mediúnica.
Os magnetizadores clássicos conviviam muito naturalmente
com o sonambulismo. Empregavam-no como meio de diagnosticar a
enfermidade e de orientação quanto à forma apropriada para o tratamento
daqueles que os procuravam. Nem sempre o sonâmbulo manifestava o
pensamento de algum desencarnado. Às vezes demonstrava conhecimentos que
estavam além da sua inteligência atual, sem que fossem captados de
algum Espírito. O Espiritismo trouxe a explicação para esse fenômeno,
mostrando que os sonâmbulos podem buscá-los numa outra vida em que
tiveram a oportunidade de desenvolvê-los.
Podemos deduzir que a
mediunidade pode existir sem a presença do sonambulismo, assim como há o
fenômeno sonambúlico sem a participação dos Espíritos. Há, ainda, a
mesclagem dos dois fenômenos no que se chama de mediunidade sonambúlica.
Muitos magnetizadores no passado, antes do surgimento do Espiritismo,
já vislumbravam a possibilidade de comunicação entre os dois mundos. Os
diálogos com os seus sonâmbulos forneciam inúmeras dicas de que ali
existia algo mais que um ser encarnado falando. Ao citar o seu anjo
doutor, o sonâmbulo revelou a existência de seres fora da matéria e que
podiam interagir com os homens através daquela faculdade especial, o
sonambulismo, que lhe proporcionava a independência e a liberdade
espiritual e que lhe possibilitava o contato consigo mesmo, com o Ser em
essência, o Espírito.
Fonte: Instituto Chico Xavier
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